A Marcha dos Estudantes, realizada em Brasília, que ontem (dia 31) encerrou o “Agosto Verde Amarelo” da UNE, é mais uma resposta aos pessimistas que não conseguem enxergar o crescimento da mobilização social no Brasil.
Ou aos que, de má fé, tentam desqualificar as manifestações populares atribuindo a elas um rótulo de “chapa branca” que as diferenciaria de outros movimentos, como os dos jovens chilenos, árabes ou europeus, que saem às ruas contra seus governos, exigindo democracia e lutando contra atentados aos direitos sociais ameaçados por políticas conservadoras.
Existem inclusive aqueles que, a partir de comparações desse tipo, recusam um caráter “de esquerda”, socialista e avançado às organizações populares (como a UNE, o MST e as centrais sindicais) e aos partidos (entre eles o PCdoB) que, participando e apoiando o governo de Dilma Rousseff, se juntam a estas manifestações populares.
São interpretações erradas que merecem reflexão. Em primeiro lugar, o Brasil vive uma efervescência popular crescente. Há mobilizações de amplos setores do povo em torno de um leque de reivindicações democráticas e populares.
Os trabalhadores e as centrais sindicais, como a CTB, ocupam as ruas contra a ortodoxia econômica e os altos juros, em defesa do crescimento econômico, do trabalho, emprego e valorização da renda, e se juntam aos estudantes na exigência de 10% do PIB e 50% do fundo social do pré-sal para a educação. Há uma acesa mobilização em torno da Conferência do Trabalho Decente, preparatória da Conferência Nacional do Emprego e Trabalho Decente, por mais e melhores empregos e também erradicação do trabalho escravo e infantil. Além, claro, da reivindicação da jornada de 40 horas semanais sem redução nos salários e da regulamentação das convenções 151 e 158 da OIT.
A luta pela reforma agrária é permanente e se traduz em ações que se multiplicam pelo país. É a bandeira do MST e da Marcha das Margaridas, das trabalhadoras e trabalhadores rurais; povos indígenas e quilombolas exigem a regularização fundiária e o reconhecimento e demarcação de suas terras.
Os estudantes, com a UNE à frente, anseiam mais verbas para a educação, contra os juros altos e pela educação pública e gratuita e pela regulamentação do ensino privado.
As mulheres vão à luta pela igualdade e contra a violência, sendo a Marcha das Vagabundas um exemplo da ousadia e irreverência contra a responsabilização da mulher em casos de agressão sexual.
Os professores exigem, pelo país afora, o cumprimento do piso salarial do magistério instituído pela Lei 11.738, e os policiais e bombeiros não abrem mão do piso salarial nacional para a categoria e lutam pela aprovação da PEC 300.
As ações dos sem teto se multiplicam e colocam na agenda o pleito pela reforma urbana e a defesa do Direito à Moradia e à Cidade.
Cresce também a indignação contra a homofobia e as agressões motivadas por ela, exigindo sua criminalização.
Há manifestações em defesa da banda larga e da democratização da internet rápida; o movimento pela democratização dos meios de comunicação se reforça e amplia.
Só por má fé ou miopia política alguém pode rotular este amplo e múltiplo movimento popular como “chapa branca”, corporativo ou ligado a interesses obscuros.
A lista apresentada acima é parcial, sendo apenas um exemplo da luta que os brasileiros retomam depois da década de retrocesso, desmobilização e criminalização do movimento social que foi o retrógrado período neoliberal comandado pelos tucanos e por Fernando Henrique Cardoso.
Há um florescimento da luta popular e ela é movida não só pelo apoio ao governo, como dizem seus detratores. Mas por uma agenda: o programa que levou o povo brasileiro a derrotar os tucanos e a elite conservadora e neoliberal nas eleições presidenciais de 2002, 2006 e 2010. E que, ao contrário do que ocorreu sob o predomínio conservador e neoliberal, encontra ressonância, apoio e boa vontade no Palácio do Planalto, num governo que não trata os movimentos sociais como criminosos, mas formas legítimas de pressão popular para alcançar novas conquistas e direitos.
O que define o caráter da luta do povo não é a adesão a um governo ou oposição a ele, mas a defesa de um programa de mudanças. O povo sai à rua justamente para, no quadro mutante que o país vive, exigir do governo federal coerência e compromisso com o programa de mudanças vitorioso na última eleição presidencial. É neste sentido que o movimento popular apoia o governo e quer mais, quer avançar.
A má fé tucana e conservadora mal esconde que só vê sentido num movimento popular de oposição ao governo, ressentia por não encontrar, nas ruas, eco para suas campanhas retrógradas, antipatrióticas e elitistas, contrárias às mudanças que o povo deseja e pelas quais luta.
Uma reflexão final e necessária impõe o reconhecimento de que, além das reivindicações específicas e próprias de cada segmento do movimento popular, há uma agenda comum, um núcleo compartilhado, de reivindicações que a permeiam: a exigência de mudanças na política econômica, de valorização do trabalho, do emprego e da renda, de ampliação e fortalecimento da democracia e dos direitos sociais, de mais verbas e ação pública em temas como a educação pública e gratuita para todos, as reformas agrária e urbana, moradia, saneamento, transportes públicos, defesa e fortalecimento do Sistema Único de Saúde, democratização dos meios de comunicação, defesa das riquezas nacionais (como o pré-sal) as reformas agrária e urbana.
É um programa comum aos vários segmentos do movimento social e que vai se consolidando. Ele precisa, agora, se desdobrar em um novo passo: a ação comum, unificada, do movimento social, das entidades do movimento popular e as centrais sindicais. Passo fundamental para o avanço do movimento e também para aumentar sua repercussão junto ao governo federal.
MUNDO EM MOVIMENTO
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